domingo, 15 de agosto de 2010

O soco de Juninho.

Depois de quase uma semana sem postar, decici pensar em alguma coisa para escrever aqui. Essas coisas de que "se tenho um blog, ele tem que servir para alguma coisa" etc! Mas ai veio a grande questão: Falar sobre o que?! A semana foi agitada, em termos esportivos. Podia muito bem falar da gangorra eterna do Brasileirão ou da excelente vitória do Inter na Libertadores. Podia falar do segundo título do ano do Santos, sob a batuta de Paulo Henrique Ganso. Podia também comentar sobre as contratações internacionais e nacionais, que movimentaram o mercado da bola. E ainda tinha a boa estréia da seleção "de" Mano Menezes.

Mas não vou falar sobre nada disso, vou falar de Nelson Rodrigues. Meu atual livro de cabeceira é O Berro Impresso das Manchetes, coletânia das colunas esportivas que Nelson publicou entre 55 e 59. É a segunda vez que leio e a primeira como calouro de jornalismo, o que me faz ter uma visão um pouco diferente. Óbvio que só no modo de olhar, porque no modo de critica, não seria capaz de cometer tal sacrilégio.

Enfim, grande parte das crônicas fala sobre a falta de graça que o mundo do futebol vinha se transformando. E isso lá na década de 50, antes da primeira copa levantada pelo Brasil. Praticamente no periodo jurássico para os jovens como eu! Segundo Nelson, o futebol vinha sofrendo de falta de malandragem e ele cita vários exemplos. Em um deles, ele fala que o 0x0 é um roubo para todos - torcedores, juizes, jogadores, técnicos, etc. Em outro, ele fala que só um juiz ladrão pode transformar um jogo pacato em uma batalha homérica. Enfim, ele cita um monte, se quiser saber mais compre o livro e não me encha o saco.

Mas voltando, a falta de malandragem REINA no futebol hoje em dia. Em um dos textos pós-copa, falei que não faltava um reserva para o Kaká, mas sim um cara como o Romário ou o Edmundo. Caras assim estão em falta no planeta todo. Agora a moda é ser "Atleta de Cristo", que porra é essa?! Quer dizer que os "Atletas de Cristo" são um time e vão lançar os "Filhos de Abraão", "Amigos de Buda", "Peregrinadores de Meca" ou "Vampiros do Crepusculo"! Que merda é essa?! Ai acontece casos como o do ilustre sr. Felipe Melo que, mesmo sendo um religioso, faz uma cagada homérica, dando um pisão em um colega de trabalho. Com isso vem o preconceito contra os religiosos, blá blá blá etc!

Simples assim: se o cara quer ter uma religião ele tem o direito de ter. Talvez na Coréia do Norte não, sinceramente não sei, mas no resto do mundo ele pode escolher. Agora vem se fazer de santinho pra sair pisando nas canelas dos outros?! Ahh vai a merda! Prefiro o Edmundo, que não levava desaforo pra casa ou o Romário que, quando se emputecia, metia 3 e saia rindo dos outros. Faltava um cara assim na seleção, falta um cara assim no mundo. E se alguém pensou que o Robinho era esse cara, pense de novo e descarte essa opção e, se continuar a pensar, darei um pedala robinho pessoalmente na proxima oportunidade! RESERVA do RESERVA do Man. City não merecia estar nessa seleção, muito menos ser capitão.

Percebeu que quase sempre que um cara é contratado ele beija o escudo do clube?! Imagine o Leandro Amaral, que teve sua carreira ressucitada pelo Vasco, saiu brigado com o Eurico (não com o Vasco) para o Flu e agora foi apresentado no Flamengo. Tudo isso em um espaço de uns 5 anos. Imagine o sujeito beijando o escudo de 3 clubes rivais e me diga se algum deles foi de verdade?!

O São Paulo é um clube assim. É só ver o time titular que você vai perceber que quase todos os nomes (tirando Rogério Ceni, claro) fizeram sucesso em outros clubes e o SP ofereceu uns 500 a mais e eles se mandaram. Casos de Fernandão, vindo do Goiás; Dagoberto do Atlético PR; Junior Cesar do Flu e mais um monte, que fiquei com preguiça de escrever. O SP mostra o futuro do futebol. Uma equipe organizada desde o começo, com uma excelente estrutura e uma diretoria profissional, mas ao mesmo tempo, ele mata todas as tradições do futebol, praticamente tirando a alma dos jogadores, transformando eles em gado para exportação.

Há muuuuuuuuuuito tempo atrás caiu a máscara dos que achavam que os jogadores são burros e que os clubes fazem o que quiser com eles. É só olhar o Sócrates, Raí, Leonardo, Kaká, etc. Eles podem não entender muito de moda e ter um gosto duvidoso para música, mas burros não são. Então como alguém me explica a entrada criminosa do Felipe Melo ou do De Jong na final?! Ninguém chegou e falou algo como "Ô Anta, se fizer merda você vai ser expulso e se for expulso e o time perder, você vai apanhar; se ganhar, você não volta mais e vai apanhar do mesmo jeito!" Copa não é o Brasileirão com 200 rodadas.

Antes de fechar quero citar dois casos. Neymar e Ganso. O primeiro é provavelmente a maior jóia da atual safra brasileira. Tem tudo que um menino de 18 anos sonha em ter e pode ter mais ainda se for vendido para o Chelsea. Mas tem uma marra absurda! Não confundam talento com marra. Romário era daquele jeito (e é, o cara não morreu pô!) porque ele podia ser daquele jeito. Neymar ainda tem que comer muito feijão com arroz pra chegar aos pés dele. Essa foi a derrota do Robinho. Eu nunca vou esquecer da novela da transação dele para o Real Madrid. Segundo o próprio ele queria sair, porque lá ele seria o melhor do mundo e, no Santos ele não conseguiria isso. Talvez seja verdade, mas olha o que aconteceu com ele. E não me venham defendê-lo. O sujeito que PROMETEU ser o melhor do mundo muito em breve, se tornou o segundo reserva para o ataque do Man. City e quase foi reserva do Santos. Neymar tem que descer um pouco do salto e acho que na Inglaterra ele vai aprender isso. Chegar em um elenco que conta com Drogba, Lampard, etc, pode mostrar pra ele que primeiro ele tem que brigar para ser titular, depois pensar no resto.

Já o Ganso não. Ele vem mostrando ser um sujeito pé-no-chão e com um talento desses vai longe. Não se estressou com o assédio europeu e estreou com a 10 da seleção, como se fosse um veterano. Tem tudo para se tornar o melhor do mundo, muito antes do Neymar e do Robinho. Agora vem a turma do contra me vulvuzelar, falando que nos exemplos eu me contradisse. Muito pelo contrário, meus Padawans, acho que jogadores como o Romário e o Edmundo não existem mais em nosso plano futebolisticos e daqui a um tempo seram histórias para nossos filhos. O mundo hoje gira em função do dinheiro. O amor à camisa se foi e agora os marrentos não respondem no campo e sim nas baladas.

O primeiro jogo que eu assisti em um estádio foi um Vasco 3x2 no Santos em São Januário, se eu não me engano, em 98. Um sujeito chamado Alessandro ou alguma coisa parecida, tinha acabado de sair do Vasco, brigado com a diretoria por não ter muitas chances no time. Ele só era reserva de Pedrinho, Ramon e Juninho Pernambucano, mas mesmo assim, se achava no direito de reclamar. Esse tal sujeito fez o primeiro e aos 40 minutos do primeiro tempo fez o segundo, dessa vez correu para as arquibancadas, mandando dedo pra a torcida. Quando ele virou, tomou um soco do Juninho que fez a arquibancada do estádio tremer de glória. Era o soco da torcida inteira ali. Anos depois, o mesmo Juninho daria outro soco, desta vez no próprio peito, chamando a torcida do Vasco de volta, na virada história sobre o Palmeiras, na Mercosul de 2000. Isso é brio, isso é amor à camisa e ao clube e isso é o que não existe ou está muito em falta no futebol. De marrentos e metidos a besta que se acham acima da lei dos homens e dos deuses do futebol, nós já temos um monte. Que essa geração não caia em desgraça, como a outra caiu!

PS: No segundo tempo do jogo de 98, Felipe, que acabou de voltar para S. Januário, fez dois e sofreu o penalti do terceiro, virando o jogo e deixando o tal do Alessandro (se é que o nome dele é esse) mais puto ainda com o Vasco.

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